Buriti também tem mar
Buriti Alegre tem o privilégio de ter uma espécie de mar de água doce de
Goiás, o Lago das Brisas (Lago de Furnas). Com dimensões comparadas a da
Baia de Guanabara, ele fica a 27 quilômetros da cidade e já tem toda uma
estrutura desenvolvida ao seu redor.Todos os finais de semana e
principalmente nos feriados prolongados, milhares de pessoas ficam
hospedadas nos hotéis e pousadas da região, e durante o dia, lanchas e
jet-skis enfeitam a paisagem do local.Ronaldo Calácio de Freitas,
administrador Regional do Lago, diz que 90% dos visitantes são de Goiânia.
"Nos feriados vêm excursões de todos dos locais do Brasil, mas a maioria é
mesmo da capital.O Iate Clube Buriti Alegre é um dos clubes destaques aqui
da região. Estamos atualmente com cerca de 800 associados e o local tem área
de camping e um salão de dança. Em breve serão construídas duas piscinas e
também chalés para aluguel", comenta. A região do lago é praticamente um
povoado. "Aqui nós temos escolas, supermercado, água tratada, energia
elétrica, telefone e posto de gasolina. O prefeito sabe da importância do
local e é por isso que ele está investindo pesado", complementa Ronaldo.
Turismo é atração na região
Além do Lago das Brisas, que é o destaque do turismo na região Sul de Goiás,
Buriti Alegre também conta com cerca de 14 cachoeiras, além de grutas e
saltos que impressionam pelas suas belezas. Para Edmar Arantes de Moura, o "Eidy",
assessor do prefeito, a meta da administração municipal é desenvolver o
turismo mas sem esquecer das questões ecológicas. "Temos diversos lugares
propícios à prática de esportes náuticos e outros ideais para a pesca
esportiva", afirma.
Guia do visitante
Onde ficar: Hotel Continental Hotel do Marquinho
Points: Lanchonete do Zé Pretinho Km's Rock Biers Lanchonete do Celsinho e
Bar do Gilmar
Cartão-postal: Lago das Brisas Restaurantes Restaurante do Alberone, do
Marquinho e da Graça
Clube é um "point"
O Clube AABB (Associação Atlética Banco do Brasil) é certamente um dos
points de Buriti Alegre. É lá onde acontecem os principais eventos da
cidade, sejam eles festas de aniversário ou até mesmo comícios políticos. Na
presidência do clube há 15 anos (exercendo atualmente seu 5º mandato), José
Renato Alves Leão afirma que o clube foi fundado dia 30 de outubro de 1973 e
desde lá vem prestando importante serviços junto à sociedade. "No começo era
um clube para divertimento dos funcionários do banco, mas com o passar dos
anos isso foi mudando e hoje é liberado para qualquer pessoa que se
interesse", diz Leão. No momento o clube totaliza 223 sócios, e ser for para
contar com os dependentes, esse número sobe para 1000 pessoas. "Nossa
unidade é uma das melhores do interior goiano. Contamos com duas piscinas,
dois campos de futebol (sendo um iluminado), uma quadra poliesportiva,
parque infantil, áreas de lazer com churrasqueiras, salão de festas e área
para camping. Também cedemos nosso espaço para as formaturas dos colégios da
região", complementa.
Eventos e festas
Junho Aniversário da Cidade (dia 24) Julho Festa do peão e Exposição
Agropecuária Agosto Consagração à Nossa Senhora da Abadia, padroeira da
cidade (dia 15) Outubro Consagração à Nossa Senhora Aparecida (dia 12)
Dezembro Dia do Buriti-Alegrense ausente (dia 24)
Eles têm a arte nas veias
Sem dúvida, uma das características que mais destacam a população de Buriti
Alegre da de muitas outras cidades em Goiás é o gosto pela arte. Pintores,
escritores, artistas plásticos, cantores, dançarinos, etc, difícil é
catalogar todas as pessoas que, de alguma maneira, levam a arte à cidade.
Quem é que nunca admirou as estátuas de santos e as peças religiosas que
enfeitam as igrejas católicas? Mesmo ateus, agnósticos ou adeptos de outras
religiões são capazes de imaginar o valor artístico de cada detalhe de sua
construção. Muitos até colecionam tais peças. O baiano Reginaldo Tavares
Carneiro sabe muito bem de tudo isso. O artista plástico, hoje com 33 anos,
é uma referência regional em pintura, restauração e fabricação de imagens
sacras, vendendo para Brasília, São Paulo e outras grandes cidades. "Comecei
tudo numa brincadeira de criança. Sempre fui bastante católico e comecei a
fazer esculturas no barro. Logo vi que levava jeito. Daí passei a usar o
gesso", lembra Reginaldo. Hoje o artista trabalha em cima de uma mistura de
materiais (madeira, vidro, ferro, etc) e tinta à base de uma mistura de água
com betume, verniz, etc. Pode até não parecer, mas para ele, o mais difícil
e menos lucrativo de tudo é o trabalho de restauração. "Tem pessoas que
chegam com imagens com as mãos e pés quebrados, por exemplo. O trabalho
parece pequeno, mas é muito minucioso. A parte restaurada tem que sair
perfeitamente igual à anterior e ao restante da peça", explica. Reginaldo
também confecciona lembranças de aniversário, casamento e outras datas
comemorativas. "Todos por encomenda", ressalta. O preço mínimo das
lembranças é R$ 0,50 e, para a fabricação das peças, os preços variam de
acordo com o estado de conservação, o tipo e tamanho da imagem. ''Há tanto
mistério e magia/Nas noites de Buriti/Há um sonho desterrado/Na voz
solitária que canta/Nas ruas do meu Buriti". Esses versos fazem parte de uma
poesia de alguém que por algum tempo esteve longe de sua amada terra: a
cidade de Buriti Alegre. Para a escritora Omerinda Martins de Castro, o amor
à pátria é o que move sua vida e desenvolve seu talento na arte de escrever.
"Me lembro uma vez de uma frase escrita na entrada da cidade, dizendo: 'Se
você não conhece Buriti, vai correndo, que ele está morrendo'. Isso cortou o
meu coração e resolvi fazer alguma coisa contra", conta ela. Osmerinda não
podia ter tomado atitude melhor que escrever um livro contando toda a
história de Buriti Alegre. Aos dez anos de idade, a escritora foi para Goiás
Velho estudar num colégio interno, tendo freqüentado a escola de artes
plásticas Veiga Vale. Formou-se em Letras e depois voltou para Buriti
Alegre. Desde 71, vem colhendo material, conversando com pioneiros e
visitando museus, para escrever a história da cidade. Em 85, foi vencedora
do concuso O povo faz a história, promovido pela prefeitura de Buriti. Sua
história foi publicada em forma de revista. Osmerinda agora dá continuidade
a seu trabalho, atulizando e aperfeiçoando o material que já tem escrito. A
capa do livro, ela mesma está desenhando. Por enquanto está sem editora, mas
a escritora mostra que não tem medo da luta, quando se trata de realizar seu
sonho.
Pintando a história da cidade
Mais uma prova viva de que a arte está mesmo impregnada na pele do
buriti-alegrense é o pintor Vasco Vasconcelos, 82. Irmão de Áurea
Vasconcelos, primeira professora e dona da primeira escola da cidade,
Chapeuzinho Vermelho, era ele quem a ajudava a corrigir os desenhos dos
alunos da escola. Era ele também quem pintava os painéis comemorativos dali.
O gosto pela arte de desenhar veio cedo. Vasco não perdia uma oportunidade
de colocar seu talento em prática. O dom foi desenvolvido, até que ele
transformou-se em um dos pintores mais renomados de Buriti Alegre. Vasco
conta que, aos 12 anos, ganhou uma bolsa para estudar em São Paulo, depois
de ser aprovado no Liceu de Artes e Ofícios. "Era uma oportunidade e tanto
para mim. Só que acabei chegando atrasado e não consegui fazer o curso", diz
ele. O primeiro quadro pintado por Vasco Vasconcelos já faz parte do
patrimônio histórico do município. Em 1937, ele pintou a faixada da casa
onde mora até hoje, mostrando a Avenida José Messias em seus primórdios. O
desenho também mostra a casa paroquial. A tela original está guardada na
casa de Vasco e várias cópias estão espalhadas por toda a cidade de Buriti
Alegre
Devoção aos santos
Deixando um pouco de lado o cunho espiritual, as festas religiosas de Buriti
Alegre estão presentes ano após ano, dando graça ao cotidiano da cidade e
consolidando a cultura de seu povo. As mais tradicionais são as festas em
louvor a São Sebastião e a Nossa Senhora da Abadia, padroeira da cidade. As
folias de reis e de São Sebastião também são bem animadas e contam com
grupos grandes.As comemorações começam em janeiro, quando toda a zona rural
e urbana de Buriti Alegre se une para prestar homenagens ao santo protetor
dos agropecuaristas - São Sebastião. A devoção a ele tem origens no fato de
a base da economia da cidade ser a agropecuária. A festa dura o mês inteiro
e, apesar de não muito antiga, segundo o padre da cidade, José Carlos de
Souza Andrade, tem sido bastante movimentada, "especialmente há dois anos,
quando começou a envolver fiéis da zona rural", explica. Novenas, missas,
leilões, forró e muita confraternização animam a festa. A festa em louvor a
Nossa Senhora da Abadia é feita em frente à Igreja Nossa Senhora do Rosário,
na Praça Quincas Joaquim. 15 de Agosto é o dia da padroeira e durante os
nove dias que antecedem o dia 15, Buriti fica mais Alegre do que nunca. De
400 a 500 pessoas participam da festa, enfeitando as missas, as quermesses,
os leilões e o animado forró. O padre José Carlos diz que por um tempo a
festa da padroeira teve como sede o Ginásio de Esportes da cidade. "De dois
anos para cá, voltamos a organizá-la em frente à igreja, que é o seu local
de origem. A comunidade está mais satisfeita e participativa", diz o padre.
José Carlos é padre de Buriti Alegre há dois anos e meio e diz que reconhece
o valor que o buriti-alegrense deposita nas festas religiosas. "Elas
representam muito mais que a devoção, o amor a Deus e a sociabilização das
possoas, mas o resgate de aspectos culturais esquecidos", diz ele.
Tradição vem das fiandeiras
Durante muito tempo, a Roda das Fiandeiras foi tradição em Buriti Alegre. Um
dos maiores eventos da região, que periodicamente atraía turistas de todas
as partes do estado, a roda chamou a atenção até do apresentador Hamilton
Carneiro, já tendo, inclusive, sido tema de seu programa, Frutos da Terra.O
fazendeiro Alfredo Augusto Neto, mais conhecido como Seu Tiedo, se lembra
muito bem das festas que promovia. Comida, bebida, hospedagem, era ele quem
arcava com todas as despesas. Era ele também quem comprava o algodão que
serviria de matéria-prima para o trabalho das fiandeiras. "E vinham mulheres
de todas as partes do estado, cada uma trazia sua máquina de fiar",
lembra-se. A idéia, segundo ele, foi passada de geração em geração. A
tradição de fiar na casa de seu Tiedo começou cedo e é mantida até hoje.
Desde quando ele se lembra, de seu pai, avô, bisavô, etc, a família foi
criada ao lado da roda de fiar. A Roda das Fiandeiras era uma festa que a
família sempre promovia e que seu Tiedo deu continuidade. A influência de
sua família era tão grande na região que a festa era vista como um evento
grandioso. Seu Tiedo diz que deve sua popularidade ao fato de sempre ter
sido um homem de paz. Está com 66 anos e fala que nunca brigou com nenhuma
pessoa. Os festeiros passavam o dia e a noite inteira em sua propriedade, a
Fazenda Cachoeira Alta. Era muito mais que uma confraternização entre as
fiandeiras, mas todos os tipos de pessoa participavam. "Eram duas vacas e
dois porcos mortos e 12 cozinheiras preparando o rango. Ainda tinha o arroz
doce, que gastava 200 litros de leite, e o vinho para beber. Tudo com
bastante fartura", ressalta seu Tiedo. A última festa, realizada dia 29 de
julho de 84, teve a participação de 200 fiandeiras. Só que, ao todo,
contando com quem foi atraído pelo forró, pela comida e pela
confraternização, segundo Seu Tiedo, foram 800 pessoas. Nela esteve presente
também o apresentador Hamilton Carneiro. A renda da festa era cobertores
produzidos pelas fiandeiras, que seu Tiedo fazia questão de distribuir. "Pra
mim, ver a alegria e o entusiasmo daquele povo todo já era lucro", ressalta.
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