Este livro descreve o que
começou em 31 de outubro de
1998, Dia das Bruxas, e durou
cinco meses. Nela, ele deu a
volta ao mundo mais curta, mais
rápida e mais difícil que
poderia ser feita,
circunavegando a Antártica:
muitas vezes tentada, mas nunca
conseguida antes. Foi conviva
das estrelas, cruzou neblinas,
nevascas e geleiras e desafio
mares temperamentais. Não lhe
faltou a companhia de uma
monumental baleia cachalote nem
a de ventos fortes e vagalhões
que sacolejaram a casca de noz
em que se abrigou, como se fosse
o ventre de Deus, até num
réveillon longe da mulher Marina
e das filhas. De fato, como no
samba de Paulinho da Viola, não
foi Amyr Klink quem navegou na
Antártica, mas foi o oceano que
invadiu a praia de sua
existência. Nada do que tiver
contemplado nas breves paradas
na Geórgia do Sul, na baía
Dorian ou Na Estação Antártica
Comandante Ferraz, ou do que
possa ter restado de exótico na
ilha de Bouvetoya, a mais
isolada do planeta, será
suficientemente inédito para ter
impressionado o argonauto, muito
mais ilhado ele mesmo do que
aquele território distante,
ignoto e inóspito. Por mais
surpreendente por sua exuberante
beleza que possam ser a flora e
a fauna marinhas, que o
navegante encontrou protegidas
da loucura furiosa da humanidade
predadora de pés firmes no chão,
nada terá superado a graça que
ele achou nos porões da própria
alma, ao atravessar com
destemor, mas respeito, as
fronteiras da vida. Quem
concorde com o endereço do
inferno (que "são os outros",
segundo Sartre) está convidado a
visitar o céu que cada um contém
em si mesmo e que Amyr Klink se
dispôs a nos revelar em mais
este relato fascinante de seu
caso de amor com o mar. A saga
desse jovem brasileiro
transporta a mitologia grega
para nossos dias, nos induzindo
a crer com sua viagem que o
fardo de viver pode ser mais
leve, intrépido e digno de ser
carregado.
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