Artigos Externos:
Turismo e trabalho em áreas periféricas
01/08/2002
Scripta Nova
REVISTA ELECTRÓNICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES
Universidad de Barcelona.
ISSN: 1138-9788. Depósito Legal: B.
21.741-98
Vol. VI, núm. 119 (128), 1 de agosto de 2002
|
EL TRABAJO
Número extraordinario dedicado al IV
Coloquio Internacional de Geocrítica (Actas del Coloquio)
TURISMO E TRABALHO EM ÁREAS PERIFÉRICAS
Maria
Aparecida Pontes da Fonseca
Departamento de Geografia - UFRN/Brasil
Aljacyra M. Correia de M. Petit*
Instituto de Desenvolvimento e Meio Ambiente / RN
Turismo e trabalho em áreas periféricas (Resumo)
Analisando uma área
localizada no Nordeste brasileiro - Natal/RN - procuraremos trazer
alguma contribuição para melhor avaliarmos e caracterizarmos o
trabalho turístico nas áreas deprimidas. Abordaremos a expansão do
trabalho na atividade turística natalense, as características que
este trabalho assume e os investimentos públicos efetuados visando a
formação e qualificação de recursos humanos para atender as
exigências desta atividade e propiciar maior competitividade ao
produto turístico natalense. A expansão da atividade turística
natalense alterou significativamente o mercado de trabalho, gerando
novos postos de trabalho. No entanto, a maioria destes empregos
caracteriam-se por uma grande precariedade.
(1)
Palavras-chaves:
turismo, trabalho, áreas periféricas
Tourism, and work in
peripheral area (Abstract)
Analysing an area
located in the Brazilian Northeast - Natal/RN - we tryied to
contribute with a way to better evaluate and characterize the
touristic activities in low income areas. We will study the
expansion of the labor market in Natal`s touristic activities, the
characteristics of this type of work and the public investments done
to qualify human resources to be able to deal with the demands and
to be able to make this activity more competitive. The expansion of
the touristic activity changed significantly the labor market in
Natal, creating new positions. However, the majority of these jobs
are very precarious.
Key words:
tourism, work, peripheral area
Quando abordamos o
fenômeno turístico sempre vem a tona a discussão sobre o trabalho,
seja para caracteriza-lo contrapondo ócio e negócio, seja para
explicar sua expansão que está vinculada a conquista, pelos
trabalhadores, de férias remuneradas, ou ainda ressaltando seu
potencial enquanto gerador de empregos. Neste artigo, vamos nos
referir à esta última associação.
Muitas localidades,
especialmente áreas deprimidas, tem investido na promoção do turismo
com enorme expectativa de que sua expansão irá gerar um número
significativo de novos postos de trabalho. O Nordeste brasileiro é
um caso exemplar de uma área que promove o turismo tendo como um de
seus objetivos básicos a geraçao de empregos. Após vinte anos de
investimentos na atividade turística nordestina, consideramos
necessário avaliar seus resultados no que se refere à criação de
novos postos de trabalho, a importância do trabalho turístico na
composição do mercado de trabalho local e as características que o
mesmo assume.
Assim, a proposta deste
trabalho é tentar trazer alguma contribuição para melhor avaliarmos
e caracterizarmos o trabalho turístico em áreas deprimidas como o
Nordeste brasileiro. Para efetuarmos nossa análise elegemos como
área de estudo o município de Natal/RN, onde o turismo é tido como a
atividade dinamizadora e impulsionadora do desenvolvimento local,
desempenhando, portanto, importância significativa em sua economia.
Dentro desta
perspectiva, abordaremos a expansão do trabalho na atividade
turística natalense, as características que este trabalho assume e
os investimentos públicos efetuados visando a formação e
qualificação de recursos humanos para atender as exigências desta
atividade e propiciar maior competitividade ao produto turístico
natalense.
Nosso objetivo é
identificar a importância desta atividade na composição do emprego
local, discutir algumas de suas características e avaliar as ações
desempenhadas pelo poder público no sentido que qualificar o
trabalhador para o segmento turístico
As questões que irão
nortear o presente estudo são as seguintes: de que forma a
reestruturação produtiva verificada em Natal com a expansão do
turismo, alterou o mercado de trabalho local? Como se caracteriza o
trabalho no segmento turístico natalense? Quais foram as ações
efetuadas pelos agentes turísticos locais para qualificar os
trabalhadores segundo as exigências da atividade turística?
Para desenvolver este
trabalho, partimos da hipótese de que a expansão da atividade
turística natalense alterou significativamente o mercado de
trabalho, gerando novos postos de trabalho e constituindo-se, hoje,
no principal empregador dentre os diversos ramos da economia
natalense (excetuando-se os serviços públicos). No entanto, o
trabalho gerado caracteriza-se por uma grande precariedade. Esta
precarização das relações de trabalho que caracteriza a maioria das
funções geradas pelo segmento turístico constitui-se num problema
estrutural da atividade, dificultando a permanência dos
trabalhadores mais qualificados neste ramo de atividade.
Trabalho e turismo
A redução do tempo de
trabalho e o aumento do tempo para o ócio, observados na atualidade,
propiciaram a geração de novos empregos para satisfazer às novas
demandas sociais. A expansão da atividade turística e dos postos de
trabalho ligados à este segmento relacionam-se, portanto, às novas
necessidades (Jiménez, E.; Barreiro, F.; Sánchez, J. et. al., 1998).
A atividade turística
caracteriza-se por ser um tipo de serviço onde o trabalhador assume
grande relevância, na medida em que o resultado dos serviços
prestados pelo conjunto dos trabalhadores irá interferir,
significativamente, na qualidade do produto turístico final e
propiciar maior ou menor competitividade às empresas deste segmento,
bem como ao destino turístico considerado.
No entanto, apesar desta
evidência observa-se que, em todo mundo, o segmento turístico
caracteriza-se por uma enorme precarização das relações de trabalho.
Baseando-se em dados da OMT, Sancho(1998) aborda algumas
características assumidas pelos empregos nos segmentos de hotelaria
e restauração:
-
grande número de
trabalhadores temporários;
-
destacada
participação de mão-de-obra feminina nos postos de trabalho
inferiores e baixo percentual das mulheres em cargos de maiores
responsabilidade;
-
elevado número de
trabalhadores clandestinos;
-
grande presença de
jovens;
-
importante presença
de estrangeiros;
-
baixa remuneração,
comparativamente à outros segmentos econômicos;
-
elevado número de
horas de trabalho semanais;
-
baixo grau de
sindicalização.
Estas duas
característica gerais assumidas pela atividade turística, isto é, a
importância do trabalhador na composição do produto turístico e a
precariedade do trabalho nos parecem contraditórias e inquietantes,
o que nos leva a questionar as causas e motivos que fazem com que o
trabalho turístico assuma tais características. É importante
ressaltar que entre empresários do segmento turístico é generalizado
a reclamação a respeito da baixa qualificação e falta de preparo dos
seus trabalhadores.
A chave para
compreendermos esta aparente contradição está na estacionalidade
pertinente à atividade turística, o que provoca grande rotatividade
da mão-de-obra e dificuldades na retenção de trabalhadores fixos nos
períodos de baixa temporada. Para o empresário, em geral, a
permanência do trabalhador nos períodos de baixa temporada acaba por
inviabilizar seu negócio. Portanto, o trabalho no segmento turístico
assume particularidades que o diferem das demais atividades.
Além do problema da
estacionalidade da atividade turística, o Grupo de Alto Nível de
Turismo e Emprego da Comunidade Européia (1998) aborda outras duas
dificuldades enfrentadas pelo segmento turístico para reter a maior
parte do quadro de pessoal mais qualificado: os baixos salários
praticados e o limitado prestígio dos trabalhadores que atuam neste
segmento. Segundo os estudos desenvolvidos por esta comissão, as
dificuldades inerentes ao trabalho na atividade turística "incide
substancialmente na qualidade da oferta de trabalho e na inversão
que empresários e empregados estão dispostos a fazer para modernizar
a formação e as qualificações".(op. cit., p.17)
Do exposto conclui-se,
portanto, que existe um problema estrutural no trabalho pertinente à
atividade turística. Por um lado, os empresários reclamam da
qualidade da mão-de-obra empregada, por outro, os trabalhadores mais
qualificados se recusam a permanecerem no segmento dada a
precariedade das relações de trabalho e o pouco prestígio que tais
cargos lhes proporcionam.
Apesar das dificuldades
existentes no segmento turístico com relação ao trabalho, conforme
tentamos mostrar acima, inúmeras localidades investem nesta
atividade ressaltando seu enorme potencial na geração de empregos
diretos e indiretos, destacando a quantidade e nem sempre a
qualidade do emprego gerado.
Tal aspecto é sempre
enfatizado pelo poder público e empresários deste segmento, sendo
que os primeiros tentam mostrar que esta atividade é promissora e
pode propiciar dinamismo local, uma vez que o turismo se repercute
em todos setores econômicos (agricultura, indústria, comércio e
serviços); e os segundos, justificam demandas por verbas e
investimentos públicos, subsídios e linhas de financiamentos,
alegando a importância do setor para combater um problema crucial
que atinge nossa sociedade, especialmente às áreas deprimidas,
localizadas na periferia no sistema econômico.
É neste quadro de
referência que encontra-se a área objeto de nosso estudo que iremos
analisar, a seguir.
Turismo e o mercado
de trabalho natalense
A partir de meados dos
anos oitenta a atividade turística potiguar apresenta crescimento
vertiginoso, ganhando maior visibilidade nos anos noventa. Tal
expansão é idealizada e promovida pelo poder público, onde o governo
estadual desempenha papel de destaque como estimulador desta
atividade, desenvolvendo diversas ações para incrementar seu
crescimento.
Neste período, em
decorrência de políticas públicas implementadas visando criar
alternativas econômicas para o estado potiguar, a atividade
turística passa a ser estimulada, inicialmente, em Natal e áreas
circunvizinhas, tornando-se atualmente uma das principais funções
econômicas deste município.
Quadro 1
Empregos formais nos serviços – Natal/2000
Segmentos de
atividade |
Número
de
Empregos |
% |
Serviços
industriais de utilidade pública |
1.766 |
1,39 |
Instituições de
créditos, seguros e capitalização |
2.342 |
1,84 |
Com. e adm. de
imóveis, valores mobiliários, serv. Técnico... |
10.213 |
8,01 |
Transportes e
comunicações |
8.904 |
6,98 |
Serviço de
alojamento, alimentação, reparação, manutenção... |
16.102 |
12,63 |
Serviços
médicos, odontológicos e veterinários |
6.398 |
5,02 |
Ensino |
7.370 |
5,78 |
Administração
pública direta e autárquica |
74.393 |
58,35 |
Total |
127.488 |
100,00 |
Fonte: MTE / RAIS
Natal é uma cidade que
exerce funções predominantemente ligadas aos serviços, destacando-se
os serviços públicos, já que é capital de um Estado de Federação e
congrega vários órgão do governo federal e estadual. Analisando
dados sobre os empregos formais de Natal, no ano de 2000,
verifica-se que 71,17 por cento encontravam-se nos serviços, 14,67
por cento no comércio, 13,39 por cento na indústria e 0,77 por cento
na agricultura, silvicultura criação de animais e extrativismo
vegetal (MTE/RAIS). No que se refere especificamente aos serviços, o
segmento constituído pela Administração pública direta e autárquica
é o que mais emprega, absorvendo 58,35 por cento dos empregos
formais; em segundo lugar temos os serviços de Alojamento,
alimentação, reparação, manutenção que emprega 12,63 por cento
(2) (ver quadro 1).
Quadro 2
Empregos gerados pelos equipamentos turísticos - Natal e Rio
Grande do Norte / 2000
Atividade/Empregos gerados |
Natal |
Rio Grande do
Norte |
Agências de
viagem e viagem e turismo |
2.957 |
3.040 |
Empregos Fixos
Diretos |
476 |
489 |
Empregos
Indiretos |
2.380 |
2.445 |
Empregos
Temporários Diretos |
101 |
106 |
|
|
|
Alimentação |
17.368 |
27.183 |
Empregos Fixos
Diretos |
2.859 |
4.391 |
Empregos
Indiretos |
14.295 |
21.955 |
Empregos
Temporários Diretos |
214 |
837 |
|
|
|
Entretenimento e
lazer |
1.829 |
6.569 |
Empregos Fixos
Diretos |
300 |
985 |
Empregos
Indiretos |
1.500 |
4.925 |
Empregos
Temporários Diretos |
29 |
659 |
|
|
|
Meios de
hospedagem |
22.683 |
31.688 |
Empregos Fixos
Diretos |
3.770 |
5.222 |
Empregos
Indiretos |
18.850 |
26.110 |
Empregos
Temporários Diretos |
63 |
356 |
|
|
|
Locadoras de
veículos |
797 |
1.343 |
Empregos Fixos
Diretos |
127 |
218 |
Empregos
Indiretos |
635 |
1.090 |
Empregos
Temporários Diretos |
35 |
35 |
|
|
|
TOTAL |
45.634 |
69.823 |
Empregos Fixos
Diretos |
7.532 |
11.305 |
Empregos
Indiretos |
37.660 |
56.525 |
Empregos
Temporários Diretos |
442 |
1.993 |
Fonte:
SETUR/RN
No processo de
reestruturação produtiva verificado na economia natalense nas duas
últimas décadas com a expansão do turismo, verifica-se algumas
mudanças no mercado de trabalho local, de modo que o segmento
turístico aparece em segundo lugar na geração de empregos. Estima-se
que 20 por cento da população economicamente ativa de Natal vive do
turismo (3).
No trabalho mais recente
sobre os serviços no Brasil desenvolvido pelo IBGE(2001), mostra
que, no ano de 1999, os Serviços de Alojamento e Alimentação
empregava 23,1 por cento do total de trabalhadores dos serviços no
Rio Grande do Norte, constituindo-se no segundo segmento que mais
empregava, sendo que o primeiro segmento que mais empregava era o de
Transporte e Serviços Auxiliares de Transporte (38,6%). Tais dados
vem ratificar a importância assumida pelo segmento Alojamento e
alimentação na geração de empregos no estado potiguar.
Segundo recente pesquisa
desenvolvida pelo governo do estado, em parceria com outros órgãos e
entidades públicas e privadas, no ano de 2000, o segmento turístico
em Natal gerava 45.634 empregos, distribuídos entre fixos diretos
(7.532), indiretos (37.660) e temporários diretos (442). Do total de
empregos fixos diretos gerados pelo turismo no estado potiguar, 66,6
por cento encontravam-se em Natal, demonstrando a importância que a
atividade desempenha neste município, comparativamente aos demais
(ver quadro 2).
Dentre os diversos
equipamentos turísticos do Rio Grande do Norte, o segmento de
hospedagem é o maior gerador de empregos. No ano de 2000, este
segmento era responsável por 31.688 postos de trabalho (empregos
diretos e indiretos). Deste total, 22.683 empregos, isto é 72 por
cento, são gerados pelos equipamentos turísticos de Natal (ver
quadro 2).
O dados expostos acima
mostram a relevância que a atividade turística assume em Natal
enquanto geradora de empregos diretos e indiretos. No item a seguir,
procuraremos fazer algumas considerações sobre as características do
trabalho turístico natalense.
Características do
trabalho turístico natalense
No Brasil, em 1999, no
segmento dos serviços composto por Alojamentos e Alimentação
predominava a micro e pequena empresas. Do total do número de
empresas existentes, 90,2 por cento atuantes no segmento Alojamento
e 98,5 por cento atuantes no segmento Alimentação empregavam até 19
pessoas. Em geral, nas empresas deste porte, a maior parte das
tarefas são desenvolvidas pelos próprios proprietários ou membros da
família e os salários pagos são, em média, muito mais baixos do que
os salários de outros segmentos dos serviços, refletindo a baixa
qualificação da mão de obra ocupada. (IBGE,2001)
As características do
trabalho turístico em Natal não difere das que encontramos no
conjunto do país. No ano 2000, na zona sul da cidade
(4), onde se concentra os principais equipamentos turísticos em
Natal, 91,0 por cento dos meios de hospedagens empregavam até 25
funcionários, 8,0 por cento empregavam de 26 à 50 funcionários e 1,0
de 51 a 100 funcionários (5). Em tais
empreendimentos também verifica-se o emprego da mão-de-obra
familiar.
Quadro 3
Empregos formais nos serviços, segundo grau de instrução (%)
– Natal/2000
Segmentos de
atividade |
Analfa. |
4ª
série
incompleta |
4ª
série
completa |
8ª
série
incompleta |
8ª
série
completa |
2º grau
incompleto |
2º grau
completo |
Superior
incompleto |
Superior
completo |
TOTAL |
% |
% |
% |
% |
% |
% |
% |
% |
% |
% |
Serviços
industriais de
Utilidade pública |
1,93 |
6,29 |
6,51 |
8,32 |
10,70 |
5,44 |
40,88 |
3,91 |
16,02 |
100 |
Insituiç. De
créditos, seguros e capitalização |
0,34 |
1,28 |
0,34 |
1,15 |
3,12 |
7,43 |
35,48 |
25,03 |
25,83 |
100 |
Com. e adm.
Imóveis, valor. Mobiliários, serv... |
3,31 |
11,84 |
10,27 |
13,63 |
14,64 |
9,18 |
29,14 |
2,83 |
5,16 |
100 |
Transportes e
comunicações |
0,72 |
4,14 |
6,46 |
12,25 |
29,74 |
8,37 |
30,38 |
2,80 |
5,14 |
100 |
Serv. de alojam.
Alimen., reparação, manutenção... |
1,33 |
6,35 |
12,72 |
13,86 |
16,36 |
11,24 |
31,28 |
1,95 |
4,91 |
100 |
Serv. Médico,
odontol., veterinário |
0,55 |
1,61 |
2,99 |
6,67 |
7,47 |
7,69 |
60,11 |
2,64 |
10,27 |
100 |
Ensino |
0,53 |
2,67 |
2,35 |
3,64 |
4,69 |
4,07 |
31,06 |
8,19 |
42,80 |
100 |
Administr.
Pública direta e autárquica |
2,14 |
3,13 |
4,02 |
10,37 |
12,27 |
5,76 |
35,38 |
2,70 |
24,23 |
100 |
TOTAL |
1,82 |
4,21 |
5,61 |
10,43 |
13,33 |
6,93 |
35,08 |
3,37 |
19,22 |
100 |
Fonte:
MTE / RAIS
Analisando os empregos
fixos diretos encontrados na atividade turística em Natal,
observa-se que 50 por cento do total são gerados pelos Meios de
Hospedagens e 38 por cento pelas empresas de Alimentação. Nestes
dois segmentos encontram-se também os menores percentuais dos
empregos temporários diretos, em relação aos empregos fixos diretos,
respectivamente 1,7 por cento e 7,5 por cento; enquanto os segmentos
que apresentam maiores percentuais de empregos temporários são :
Locadoras de Veículos (27,5%), Agências de Viagem e Viagem e Turismo
(21,0%), Entretenimento e Lazer (9,7%). Tais dados mostram a
importância dos segmentos Meios de Hospedagens e Alimentação no
conjunto dos empregos gerados pela atividade turística em Natal.(ver
quadro 2)
No quadro 3 podemos
observar o grau de instrução do pessoal empregado formalmente no
setor de serviços em Natal, no ano de 2000. De modo geral, os
maiores percentuais do grau de escolaridade aparecem no item segundo
grau completo, girando em torno de 30 por cento a 35 por cento,
excetuando-se os Serviços médicos, odontológicos e veterinários que
apresenta 60,11 por cento do pessoal empregado neste item. Os
segmentos Instituições de créditos, seguros e capitalização e Ensino
são os que apresentam os melhores índices de escolaridade, de modo
que 86,34 por cento e 82,05 por cento do pessoal empregado,
respectivamente, possuem segundo grau completo. Os maiores
percentuais de pessoal com curso superior também aparecem nestes
dois segmentos (Ensino – 42,05% e Instituições de crédito, seguros e
capitalização – 25,83%) , além do segmento Administração pública
direta e autárquica (24,23%)
Nos Serviços de
alojamento, alimentação, reparação e manutenção, apenas 38,14 por
cento dos trabalhadores possuem segundo grau completo. Não podemos
dizer, portanto, que o grau de qualificação dos trabalhadores do
segmento turístico seja elevado, uma vez que 61,86 por cento destes
trabalhadores não possuem sequer o segundo grau completo. A menor
qualificação dos trabalhadores deste segmento também pode ser
visualizada através do baixo percentual do pessoal com formação
universitária (4,91%), constituindo-se no menor índice dentre todos
os segmentos (ver quadro 3). Assim, os trabalhadores deste segmento,
juntamente com os segmentos Transportes e comunicações e Comércio e
administração de imóveis, valores mobiliários, serviços técnicos são
os que apresentam os piores índices de escolaridade.
Com relação aos
rendimentos obtidos pelos trabalhadores formais no segmento Serviços
de alojamento, alimentação, reparação e manutenção, verifica-se que
81,83 por cento recebem um salário que varia de 1,01 a 3,00 salários
mínimos e deste total 49,60 por cento dos salários situam-se entre
1,01 a 1,50 salários mínimos (6) (ver quadro 4). Os
salários pagos são baixos e seguem o padrão salarial encontrado no
Rio Grande do Norte. Conforme dados obtidos na RAIS (Relação Anual
das Informações Sociais), no ano de 2000, a média salarial do Rio
Grande do Norte era inferior a que encontrávamos na Região Nordeste
e no país. No Brasil, 29,35 por cento do pessoal empregado recebia
até 2 salários mínimos, enquanto no Nordeste situavam-se nesta faixa
51,94 por cento e no Rio Grande do Norte 58,80 por cento dos
trabalhadores. No segmento turístico, especificamente, o percentual
de pessoal empregado que recebia até dois salários mínimos, neste
período, sobe para 73,55 por cento. Portanto, os salários pagos pelo
turismo são baixos, apresentando, inclusive, índices inferiores à
média geral encontrada nos demais segmentos econômicos de Natal.
Quadro 4
Empregos formais nos serviços de alojamentos, alimentação,
reparação e manutenção, por faixas de salário mínimo - Natal
/ 2000
Faixas de
salário mínimo |
Número de
Empregos Formais |
% |
Até 0,50 |
39 |
0,24 |
0,51 – 1,00 |
665 |
4,13 |
1,01 – 1,50 |
7.987 |
49,60 |
1,51 – 2,00 |
3.153 |
19,58 |
2,01 – 3,00 |
2.037 |
12,65 |
3,01 – 4,00 |
786 |
4,88 |
4,01 – 5,00 |
371 |
2,30 |
5,01 – 7,00 |
365 |
2,27 |
7,00 – 10,00 |
280 |
1,74 |
10,01 – 15,00 |
154 |
0,96 |
15,01 – 20,00 |
52 |
0,32 |
Mais de 20,00 |
51 |
0,32 |
Ignorado |
162 |
1,01 |
Total |
16.102 |
100,00 |
Fonte:
MTE / RAIS
O trabalho realizado por
Cavalcanti (2001), trás informações a respeito do dos profissionais
que trabalham nos hotéis localizados na Via Costeira, um dos mais
importantes setores hoteleiros de Natal e onde encontram-se os
melhores hotéis da cidade. Sua pesquisa nos mostra que nestes hotéis
o nível salarial também é baixo e a qualificação dos profissionais é
precária, conforme pode ser observado nos seguintes dados :
-
54,03 por cento dos
trabalhadores não tem segundo grau completo e apenas 6,55 por
cento possuem curso universitário;
-
71,70 por cento não
realizaram nenhum curso relacionado às funções exercidas;
-
79,31 por cento não
receberam treinamento para exercerem outras funções, além
daquela em que atuam;
-
56,29 por cento não
entendem outro idioma além do português;
-
53,10 por cento não
tem qualquer conhecimento em informática;
-
23,45 por cento
receberam incentivos, por parte do hoteleiro, para realização de
cursos.
Com relação aos níveis
salariais, observa-se que não difere muito dos praticados nas demais
zonas hoteleiras, já que 84 por cento recebiam até 3 salários
mínimos e deste total 34,48 por cento recebiam até 1 salário mínimo(7).
(Cavalcanti, 2001).
A formação de
recursos humanos para o segmento turístico
Com o objetivo de
imprimir maior competitividade à atividade turística natalense os
agentes turísticos locais implementaram, ao longo dos anos noventa,
algumas ações visando a qualificação de recursos humanos para
atuarem no segmento turístico. Dentre estes agentes, cabe papel de
destaque ao poder público.
Uma das ações que deve
ser ressaltada refere-se a criação, em 1998, da Escola de Turismo e
Hotelaria Barreira Roxa – ETHBR - pelo Governo do Estado em parceria
com o Serviço Brasileiro de Apoio à Pequena e Média Empresa
(SEBRAE). Esta instituição tem o propósito de proporcionar formação
profissional, difundir novas tecnologias, produtos e serviço,
incentivar e apoiar a implantação de pequenos negócios. É a única
escola deste gênero em todo o Nordeste brasileiro.
Entre os anos de 1998 e
2000 passaram por esta escola um total de 8.851 alunos, que
concluíram cursos de nível básico e técnicos (8).
Em parceria com outras instituições de ensino (Centro Federal de
Educação Tecnológico do Rio Grande do Norte – CEFET –, Universidade
Federal do Rio Grande do Norte – UFRN -, Universidade Potiguar – UNP,
Universidade de Brasília – UNB -, Escola de Hotelaria Castelli,
dentre outros), esta escola oferece ainda cursos de reciclagem, de
educação continuada, de educação à distância, gerência e
pós-graduação, atendendo à vários estados da região nordeste.
O Sistema Nacional de
Emprego – SINE - , através dos Planos Estaduais de Qualificação –
PEQ -, por sua vez inseridos no Plano Nacional de Educação
Profissional - PLANFOR -, ofereceu vários cursos relacionados ao
turismo objetivando proporcionar uma melhor qualificação dos
trabalhadores para atuarem neste segmento. A maioria destes cursos
foram ministrados nos municípios turísticos do litoral potiguar,
tais como : Natal, Parnamirim, Tibau do Sul, São Miguel do Gostoso,
Canguaretama, Baia Formosa, Touros e Rio do Fogo. Passaram pelos
cursos de treinamentos oferecidos 9.899 trabalhadores. Dentre as
entidades envolvidas na execução dos programas de qualificação temos
o Sistema S (Senac, Senai, Sesi e Sebrae) e Universidades, dentre
outros.
As expectativas laborais
criadas com a política de expansão da atividade turística
propiciaram também a criação, em Natal, de três cursos superiores em
turismo num curto período de sete anos (na Universidade Potiguar –UNP-
em 1989, na Faculdade de Ciências Cultura e Extensão do Rio Grande
do Norte –FACEX/RN- em 1990 e na Universidade Federal do Rio Grande
do Norte -UFRN- em 1996) que, por sua vez, já colocaram no mercado
de trabalho local 804 pessoas com formação superior na área de
turismo. A partir de 1998 a UNP passou a oferecer um curso
específico na área de hotelaria, que até agora teve 40 concluintes
(9). Desde o momento de criação destes cursos até o
período atual, observa-se um aumento pela procura dos mesmos que se
reflete através do crescimento do número de vagas oferecidos pelas
três unidades de ensino superiores.
Portanto, existe uma
política de formação de recursos humanos para atender às
necessidades do segmento turístico. No entanto, apesar destes
esforços, os trabalhadores empregados neste segmento
caracterizam-se, em geral, por uma qualificação precária e formação
escolar elementar.
A baixa qualificação da
maior parte dos trabalhadores potiguares não é suficiente para
explicar o perfil profissional encontrado no segmento turístico, em
particular na hotelaria e restauração. Os aspectos levantados
anteriormente, particulares ao trabalho turístico, ajuda-nos
entender a baixa qualificação encontrada entre os trabalhadores
deste segmento, que apresentam índices de escolaridade inferiores à
outros segmentos que compõem os serviços.
Conclusão
A expansão do turismo em
Natal propiciou a geração de empregos, de modo que hoje esta
atividade constitui-e na segunda maior empregadora da mão-de-obra
local, estando atrás apenas do setor público, que de longe é o maior
gerador de empregos formais.
Sem dúvida, a quantidade
dos empregos gerados pelo turismo é significativa, no entanto a
maioria das funções caracteriza-se pelo trabalho precário, grande
rotatividade e baixa remuneraçao.
Apesar dos investimentos
efetuados pelo poder público e entidades privadas para qualificaãao
e formação dos trabalhadores para o setor turístico, observa-se que
o perfil dos trabalhadores encontrados nos principais segmentos da
atividade (hospedagem e alimentaçao) caracteriza-se por uma
qualificaçao precária, pois falta formaçao escolar básica. Talvés a
resposta para entendermos os motivos desta situaçao, encontra-se na
precarizaçao do trabalho turístico, inclusive maior do que
encontramos em outros segmentos de atividade, pois a existência de
diferentes temporadas de fluxo turístico promove grande rotatividade
de trabalhadores no setor, o que também desmotiva o empresário a
investir no trabalhador.
A precariedade do
trabalho turístico constitui num problema estrutural da atividade e
decorre da natureza desta atividade. Os sucessivos investimentos
públicos para qualificação e formação de trabalhadores para o
segmento turístico não tem obtido o resultado desejado no que se
refere a melhoria do produto turístico, na medida em que o
trabalhador mais qualificado não encontra no segmento turístico
condições de trabalho e salários compatíveis com sua formação,
permanecendo no segmento os trabalhadores menos capacitados.
Notas
(1) Este trabalho
contou com o apoio da Capes
(2) Apesar de não estarmos ainda
considerando outros segmentos desta atividade e, nesta
classificação, os serviços de alojamento e alimentação aparecerem
juntos de outros como reparação e manutenção.
(3) Segundo matéria veiculada
pla imprensa local – Tribuna do Norte (26/06/2001).
(4) Zona Sul é constituida pelos
seguintes bairros : Lagoa Nova, Nova Descoberta, Candelária, Capim
Macio, Pitimbú, Neópolis e Ponta Negra.
(5) Dados obtidos no SEBRAE –
Perfil do Investimento.
(6) Um salário mínimo no Brasil
situa-se na faixa de 70/75 dólares americanos.
(7) A autora argumenta que estes
dados a respeito da faixa salarial pode estar mascarado, uma vez que
sua pesquisa recaiu, principalmente, sobre funcionários que exercem
as funções inferiores ( recepção, camareras, governança e cozinha).
(8) Informações obtidas na
Escola de Turismo e Hotelaria Barreira Roxa.
(9) Informações obtidas nas
próprias instituições de ensino (UNP, FACEX e UFRN).
Referências
bibliográficas
CAVALCANTI, K B. -
O perfil profissional do setor hoteleiro na via costeira de
cidade de Natal. Natal, CCSA/UFRN, Relatório de Pesquisa, 2001.
GRUPO DE ALTO
NÍVEL TURISMO E EMPREGO - Turismo en Europa – nuevos
partenariados para la creación de puestos de trabajo. Bruxelas:
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INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – Pesquisa anual de
serviços. Rio de Janeiro, v.1, 2001.
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BARREIRO, F.; SÁNCHEZ, J. et. Al. – Los nuevos yacimientos de
empleo: los retos de la creación de empleo desde el territorio.
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WWW.MTB.GOV.BR/TEMAS/RAIS
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cyrapetit@aol.com
© Copyright Maria
Aparecida Pontes da Fonseca y Aljacyra M. Correia de M. Petit, 2002
© Copyright Scripta Nova, 2002
Ficha bibliográfica
FONSECA, Mª A.; PETIT,
A. Turismo e trabalho em áreas periféricas. Scripta Nova, Revista
Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales, Universidad de
Barcelona, vol. VI, nº 119 (128), 2002. [ISSN: 1138-9788] http://www.ub.es/geocrit/sn/sn119128.htm
Maria Aparecida
Pontes da Fonseca
http://www.ub.es/geocrit/sn/sn119128.htm
01/08/2002
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